quinta-feira, 23 de maio de 2013

G.BISSAU

                                     nota: VIVA !!!

           Evanir Ocaia.TP

vejam a história...


Escola Superior fechada a cadeado pelos alunos

Bissau - Os alunos da Escola Superior de Educação (ESE) da Guiné-Bissau fecharam ontem (quarta-feira) a cadeado as portas do estabelecimento de formação de professores em sinal de protesto pela greve dos docentes das escolas públicas do país.  
Os professores das escolas públicas guineenses estão de greve geral há quase um mês, reclamando o pagamento de salários em atraso.  
Evanir Nunes Ocaia, presidente da Federação dos alunos da ESSE, disse à Agência Lusa que o fecho das portas da escola "é por tempo indeterminado" e surge como "medida de pressão ao Governo" para que pague os salários aos professores, que já não recebem há oito meses.
O fecho do portão da Escola Superior de Educação fez com que os alunos do departamento de Língua Portuguesa, que têm o apoio do Instituto Camões a partir de Portugal, também estejam sem aulas. 
Evanir Ocaia sabe que está a prejudicar os alunos que aprendem a língua portuguesa, mas considera ser a única forma de pressionar o Governo guineense no sentido de resolver o problema.  
"Por ser um curso que recebe o apoio de um Governo de outro país (Portugal) e por esse motivo funcionava sem problemas. O nosso Governo vai ter de tomar medidas porque eles também estão sem aulas", defendeu o presidente da Federação dos alunos da ESE.
"A ideia é bloquear tudo. Não vai funcionar nada até que se resolva o nosso problema", disse Evanir Ocaia, que considera insignificante o número de alunos que frequentam o ensino da Língua Portuguesa na ESE.  
"É como se fossem uma gota de água no oceano. Achamos injusto que estejam a ter aulas enquanto nós, que somos o grosso dessa escola, estamos sem aulas", afirmou o dirigente estudantil.  
As portas da escola, no bairro de Missirá, só voltarão a abrir com o pagamento de salários aos professores de todos os cursos e ainda quando a direcção da escola melhorar as condições de trabalho e de aprendizagem, defendeu Evanir Ocaia.
"Exigimos que haja Internet, corrente eléctrica suficiente, abertura da sala do conselho técnico pedagógico durante a noite, a reabilitação do ginásio do Enefd" (Escola Nacional de Educação Física e Desporto) que faz parte da ESE, sublinhou Ocaia.  
A ESE tem mais de três mil alunos, em cursos diversos para chegar à carreira docente.
fonte: N.G.

G.BISSAU

nota:DEMOCRACIA ESTÁ A FUNCIONAR.É PRECISO, É: CALMA E CORAGEM.TPanaque

vejam a história...


AOS POLÍTICOS GUINEENSES COM TODO O MEU RESPEITO E COM TODA A MINHA INDIGNAÇÃO


A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes.
Winston Churchill


                                     RISPITO

Pela primeira na vida hesito na maneira de começar um texto. Não por medo de ofender alguém, coisa que tento nunca fazer. Nem por me faltarem razões ou argumentos que entendo ter de sobra para o que pretendo dizer. Mas porque quero que este texto não seja esquecido por ninguém que o leia. Dito isto, usando o meu Direito a Indignação - que a Constituição da Republica me dá -vou dizer duas coisas que – com toda a serenidade - entendo que devem ser ditas. Mas em primeiro lugar um esclarecimento, imperioso, para separar as águas:

Esta carta é uma acusação de um cidadão dirigida a todos os que consideram-se políticos sem excepção. Só não é dirigida - pela sua elevação - a analfabetos e aos burros alfabetizados (ou como é agora moda dizer, analfabetos funcionais), por mais altas funções que tenham desempenhado ou desempenham no Aparelho de Estado, pois as suas limitadas capacidades não lhes permite compreenderem-na. Peço mesmo que se por acaso um deles cruzar o seu olhar com este texto que se abstenham de o ler. Pois se persistem na sua leitura só lhe fará confusão e possivelmente raiva de quem o escreve. Se pertence portanto a estas duas classes, abstenha portanto de lê-la.

Não quero escrever numa linguagem acessível a todos, pois embora se diga que e bom descer ao nível dos nossos leitores, escrevendo numa linguagem popular, aqui por precaução não farei isso pois chegou tempo de não descer mais (tanto literariamente como politicamente). Pois hoje qualquer pessoa que saiba escrever o seu nome apenas acham-se competentes para discorrer sobre a política e emitir opiniões sobre tudo e mais alguma coisa; sobre os actos de um Presidente de um Chefe de Governo, etc. sobre a economia, finanças, agricultura, politica externa etc., seja lá o que for.

Mas mais importante ainda do que acabei de dize, “não descer mais” tem também a ver com a elevação do tema, pois é sobre coisas sérias, sobre o sentido de Estado, sobre a dignidade dos cidadãos, sobre a honra de um povo. É sobre aquilo que nós Guineenses chamamos de rispito.


Dirijo-me a vós individualmente, independentemente dos Partidos a que pertencem, mesmo àqueles que pertencem a Partidos que só existem no papel, mesmo aqueles que nem sede têm e muito menos ideologia ou programa factível ou não, mesmo aqueles que nunca elegeram um só representante em toda a sua existência e nunca elegerão no resto das suas vidas. Portanto dirijo-me também aos “simples” políticos, que o são, apenas porque fundaram e legalizaram (ou não) um Partido Politico.

Dirijo-me também a aqueles que “sendo políticos” só o são e o foram durante as campanhas presidenciais e nos Golpes de Estado. Portanto dirijo-me a todos que fazem parte deste nosso estranho universo da política nacional que não tem fronteiras nem limites, depende só dos apetites de cada um, das oportunidades da vida, e dos acasos da existência.

Dirijo-me também a aqueles que desempenharam, desempenham um papel político oficial, sejam deputados ou governantes, conselheiros, assessores, ajudantes. Dirijo-me a vós para perguntar com toda a tranquilidade de um cidadão que vocês representam bem ou mal (na verdade mal e porcamente, diga-se em abono da verdade).

Penso que chegou a hora, depois de o País passar já por tudo o que passou, de dizermos tudo também. Neste ano de todas as desgraças (como o ano passado e todos os anteriores diga-se em abono da verdade), como humilde cidadão - para o qual dizem trabalhar, portanto destinatário ultimo dos vossos imensos sacrifícios e decisões, que são tomadas em meu nome e para o meu bem-estar -, modestamente, dirijo-me a vós que se dizem políticos, que sentem-se políticos, que se apresentam como políticos e inclusive entendem que fazem o trabalho de políticos, tanto na oposição como na situação, tanto no legislativo como no executivo.

Dirijo-me a vós para vos perguntar simplesmente uma coisa: o que é que querem realmente para os vossos filhos? O que querem fazer hoje para melhorar as suas vidas e o que querem legar-lhes para a posteridade?

Mas atenção, não falo dos “filhos deste povo”, que para vós é uma coisa abstracta, estranha e incompreensível. Falo dos vossos filhos, aqueles que tiveram com as vossas mulheres; daqueles que têm os vossos apelidos; Sim, daqueles que carregaram ao colo quando eram pequeninos como nós os simples cidadãos também carregamos os nossos. Que futuro querem para esses e para os filhos desses? Os vossos netos e futuros netos? Pergunto, partindo do simples conjectura de que se nem esses respeitam, se nem sangue do vosso sangue respeitam, por que carga de águas vão respeitar os filhos de outros cidadãos?

Mas se mesmo a esses não podem garantir coisas elementares como luz e água, escola, saúde, alguma segurança, comida, não percebem que há muito já deviam ter ido para casa?

Quantas gerações ainda pretendem sacrificar no altar da vossa maldade, no templo da vossa incúria e desamor para com o povo? A minha geração foi sacrificada, a da minha filha também e sei com a segurança de um clarividente que a geração dos filhos dela será também se quem Governar este país continuar a ser os que governaram, ou os que são iguais a eles, quer dizer os piores que podem ser encontrados.

II

SIMPLES CIDADÃO NÃO NARCOTRAFICANTE

Sou um simples cidadão da Guiné. E esta simples afirmação pressupõe deveres e direitos. Significa que pertenço a uma comunidade de indivíduos que têm a mesma bandeira e Hino. Uma comunidade de seres que têm responsabilidades comuns e deveres para com outros. Uns para com outros. É deste insofismável pressuposto que parto para explicar aos que nunca entenderam, e possivelmente nunca entenderão, o porquê da indignação de um simples cidadão perante as tropelias quase infantis da nossa “classe política”.

Ser político obriga a responsabilidade moral e politica. Ser politica não é apenas um direito que a Lei concede o cidadão pessoalmente, mas um dever que a Lei obriga colectivamente. Ser político significa antes de mais ser servidor do povo. Implica responsabilidades enormes e deveres ainda maiores. Por isso os Governantes devem ser sempre responsabilizados por não fazerem nada (por não terem feito nada quando governaram). Aliás deve haver uma responsabilidade criminal por “não fazer nada”. Deviam ser responsabilizados não apenas pelo descalabro, desorganização que promovem, mas pela morte de dezenas e dezenas de nossos compatriotas. Esses compatriotas que morreram por esses governantes numa determinada altura nunca terem feito nada pelo país. Que morreram por falta de água potável, por falta de hospitais, pela subnutrição, pela miséria total em que vivem sujeitos a todo o tipo de doenças, fome etc.

Havendo responsabilização clara e factível haveria pouca vontade para correr atras de postos Ministeriais por pessoas incapazes de todo. Haveria pouca apetência para ser ministro ou qualquer outro posto no aparelho do Estado.
Mas como não há responsabilização, de todo, existem muitos criminosos que andam a assobiar pelas ruas das nossas cidades porque sabem que nunca ninguém é responsabilizado por nada.

Sendo um simples cidadão, tenho o direito de indignar-me acerca do comportamento daqueles que todos os dias afirmam que me representam em maiorias e minorias parlamentares das quais nunca vi resultado nem agora nem no passado, a não ser sofrimento, degradação, caos e miséria. Se o País, no seu todo (económica e socialmente) está de rastos, também está politicamente de rastos. O nosso amor-próprio esta de rastos. A nossa confiança está de rastos. Os quadros estão de rastos; os intelectuais estão de rastos; os empresários estão de rastos; povo está de rastos. Vocês, não sei, mas eu, pessoalmente, como simples cidadão, como um elemento desse povo, estou de rastos.

Simples cidadãos, há anos, que quando acontece uma pequena ou grande pouca vergonha nacional - qualquer que seja ela - em que os nosso “políticos” nos metem, ouvimos o triste desabafo: o “bom desta história” é saber que pior que isto já não pode suceder”; “já chegamos a um ponto que não podemos descer mais”; ou qualquer coisa similar num desabafo pueril prenhe de esperanças num amanhã em que não nos envergonharão mais porque já não é possível ser mais envergonhado. É como que depois de nos matarem um filho, um pai, um irmão, em vez de ficarmos revoltados, ficarmos aliviados e tranquilos, pois sabemos que depois de morto já não o poderão matar de novo e nem lhe fazer mais mal.

Mas é necessário dizer que sempre que a governação/desgovernação atingia as raias do absurdo ouvíamos os invariáveis “pior que isto não é possível”; “a pouca vergonha chegou ao seu limite…” etc., etc. Assim foi na morte do Nino Vieira e na morte de Hélder Proença, para dar apenas dois exemplos conhecidos. Pois tantas mortes houve depois dali para cá e antes que nem vale a pena falar aqui.

Mas nunca tínhamos chegado ao ponto de a maior potência do mundo, membro permanente (e criador) do Conselho de Segurança, vir nos acusar - a todos, cidadãos inocentes incluídos - de sermos uma nação de narcotraficantes. Um Estado a margem da lei, um “Narco-estado”. Acusar o Governo, enquanto “órgão” no seu conjunto, de ser um Governo de narcotraficantes, tem implicações que muita gente parece não entender ou interiorizar, mesmo organizações internacionais. Mas o importante hoje é que muita boa gente entenda que a acusação é apenas um passo de muitos outros que poderão ou não se seguir.

Mas nesse entretanto, eu - como simples cidadão - recuso ser considerado cidadão de um suposto “Narco-Estado”. Mas não recuso apenas de forma ufana, inconsequente e irresponsável como alguns. Recuso aquele rótulo e condição porque na verdade um Estado nunca é “Narco”; como nunca é “Criminal” ou “Ditatorial” como instituição ou entidade. Se os órgãos de um Estado, qualquer que seja, estão reféns de um grupo de criminosos, não são os órgãos que são criminosos, mas os assaltantes desse órgão.

Recuso ser um cidadão Governado por um “Governo de narcotraficantes” pela simples razão de que tal Governo nunca existiu no mundo. Na História conheci vários sistemas de Governo e regimes políticos, desde a Teocracia, Oligarquia, Plutocracia, Tirania, Autoritarismo, Democracia, Despotismo, Teocracia, Tirania, Gerontocracia, etc., atá a Bancocracia, mas nunca conheci Narcocracia.

Além do que já disse, recuso ser um cidadão Governado por um “Governo de narcotraficantes” por ser elementar que para narcotraficantes, governarem ou exercer qualquer acto parecido com este exercício, é impossível. Porque isso vai simplesmente contra a sua natureza, da mesma forma como é contra a minha natureza - como cidadão e como ser humano livre e inteligente - ser governado por analfabetos funcionais ou narcotraficantes.

III
AUSÊNCIA DE ESTADO VERSUS NARCO-ESTADO
CIDADÃO GUINEENSE VERSUS CIDADÃO AMERICANO

Esta pecha vergonhosa de ser cidadão de um hipotético “Narco-Estado” não pode conspurcar a honra de milhões de pessoas que nunca tiveram nada ver com ela e nem com quem esteja ligado a ela. Como cidadão de uma terra digna, peço ao Congresso Americano, a Casa Branca, ao Departamento de Estado que faça as devidas distinções. Eu, Fernando Teixeira, cidadão com B.I. Nº 00038447, da República da Guiné-Bissau, membro de pleno direito das Nações Unidas, não sou narcotraficante, nunca fui e nunca serei, por isso recuso liminarmente ser tratado como narcotraficante.

Como também recuso ser governado por narcotraficantes sejam eles quem forem. A minha recusa não é um acto de afirmação pessoal, é uma recusa conjunta, comum, nacional e de todo um povo do qual sou um simples elemento. Não sou e nunca serei cidadão de um “Narco-estado” pois vai contra tudo que sagrado e excelso para mim.

Sou um simples cidadão, tão comum como igual a qualquer cidadão Americano que nada tem ver com o seu vizinho que massacrou alunos no Liceu de Columbine ou com outro seu concidadão que destruiu o edifício do Governo Federal na Cidade de Oklahoma em 1996, para dar apenas dois exemplos.  A nossa culpa criminal por viver num território povoado de narco-traficantes é neste sentido é nula. A nossa culpa política por tal ter-mos permitido como povo é total.

Pois embora tenha que aceitar que a responsabilidade é tão individual comocolectiva, não a posso dirigir ao Povo no seu colectivo. Mas ouso dizer que chegamos aonde chegamos por nossa culpa colectiva como povo e como cidadãos particulares.

E que cada um responda, a si próprio, com honestidade e coragem: segundo a sua consciência e segundo os seus actos individuais, independentemente das funções desempenhadas, cargos ocupados e organizações nacionais e internacionais a que se pertenceu nestes últimos 40 anos.

E a vossa resposta a vós mesmos será o início de uma nova relação com o vosso País e Povo. Porque independentemente de tudo, aceitemos ou não, existe a responsabilidade política e a responsabilidade moral. E não se pode fugir de ambas eternamente.

Mas cada homem age de acordo com o sentido de dignidade e respeito que tem por si próprio e pelo seu país. O sentido de dignidade nuns é grande, noutras é pequena. Em alguns, ela nem existe; pois a dignidade não se aprende, ou se tem ou não se tem. E quando nasce-se digno raramente more-se indigno.

Tenho que concordar com raiva que na nossa terra " (…) Não podemos afirmar a inocência de ninguém, ao passo que podemos afirmar com segurança a culpabilidade de todos. Cada homem é testemunha do crime de todos os outros... (…)

Acredito que a natureza de narcotraficantes é destruir e não realizar. Governar é realizar. Portanto duas coisas inconciliáveis. Por isso a palavra “governar” não se adapta. E se por algum motivo, numa determinada altura do nosso processo histórico, o Estado foi sequestrado por narcotraficantes, tenho que considerar simplesmente que o Estado não existe nesse hiato de tempo.

“Não existir” é diferente de ser “Narco”. Repito: Um “Estado Inexistente” é diferente de um “Estado Narcotraficante” ou “Narco-Estado”. A Comunidade Internacional, com os Estados Unidos da América a cabeça, têm que entender que a “Ausência de Estado” é diferente da existência de um “Estado de Narcotraficantes”.

Mas na minha reflexão vou até ao Tribunal Internacional de Nuremberga instituído para julgar os criminosos nazis no fim da Segunda Guerra Mundial, houve diferentes tipos de acusações:
Aos indivíduos particulares enquanto membros do Governo de um estado criminoso (Governo do Reich).
Indivíduos particulares como dirigentes de um partido criminoso (partido nazista).

Indivíduos particulares como membros da cúpula de forças armadas que colaboraram com um regime e governo criminosos (Alto Comando das Forças Armadas).

Indivíduos particulares empresários que colaboraram com um estado criminoso (I.G. Farben, Krupp e outros)

Mas ouve acusações concretas e condenações ao “Governo Alemão” como um órgão criminoso e comum. Ao Partido Nazi como um partido criminoso. E as diferentes organizações emanadas desses dois principais.

Isto para explicar que a pertença a qualquer órgão que seja considerado criminoso implica a condenação ao individuo independentemente do seu grau de culpabilidade, que sempre varia de pessoa para pessoa, ministério para ministério; pois em qualquer Governo há quem seja encarregado de torturas e execuções e há quem seja encarregado de creches e hospitais; mas pertencer a um governo criminoso, mesmo que a responsabilidade seja de proteger as florestas, não iliba ninguém de ser criminoso, se este Governo for condenado como órgão criminoso.

IV

GROUND ZERO

Dito o que devia dizer a Comunidade Internacional, tenho que dizer agora também o que devo a Comunidade Nacional (embora quase ninguém liga a esta “comunidade”):

Embora seja desagradável para o inocente cidadão (que nunca traficou e nunca ganhou nada como isso), de certa maneira é também culpado “Estado da Nação”; tem que entender que se deve indignar-se com estas injustas acusações e rótulos que o seu país tem, para sua grande vergonha, tudo foi acontecendo há anos e anos perante a sua passividade. Pois se tivesse feito o seu papel de cidadão, exercido o seu papel de fiscalizador da acção governamental, e tivesse um pouco de respeito por si mesmo e seus filhos e alguma responsabilidade moral perante o destino da sua pátria, possivelmente nunca o país teria chegado aonde chegou.

Mas como chegamos aqui? Alguém conscientemente quis e fez isto? Ou sem notarmos de consequência em consequência sem nenhuma noção das coisas, como crianças, fomos dando os necessários passos até ao lugar do cadafalso?
As nossas gerações não tiveram dignidade, e sem dignidade não há glória nem bem-estar e muito menos o progresso. Gerações de pedintes, as nossas gerações, não tiveram dignidade, nem ontem nem hoje. Pois só rouba quem é deixado roubar, só destabiliza quem é deixado destabilizar; só descontrola quem é deixado descontrolar; só mata quem é deixado matar.

Pois testemunhar e nada fazer é também ser culpado. Ter tido medo é também ser culpado. Se as nossas gerações passadas - se todo o cidadão -, tivesse saído a rua, não se teria esbofeteado ninguém, prendido ninguém, matado ninguém. E não teria havido a guerra de 1998 e a nossa história seria muito diferente hoje…

Os quadros lavaram as mãos perante a iniquidade e a indignidade. A parte mais lúcida do povo, a mais bem preparada, não cumpriu a sua missão. Por isso o bom nunca mandou no mau, o sensato no insensato, o competente no incompetente, o moderado no radical, o justo no injusto, como em países normais; foi sempre o contrário. Por isso o nosso país é o contrário dos países normais. Eis a nossa desgraça. Desgraça destas gerações “pôs Luta de Libertação”, “pôs 14 de Novembro”, “pôs Guerra de 1998…” as gerações “pôs... nada”. As gerações do “nada”. As gerações do “nada vezes nada fora”. Pois no fundo nada ficou; meia dúzia de meio ricos? Meia dúzia de chicos espertos? Dúzia e meia de irresponsáveis? Ficou mais alguma coisa de quarenta anos de história?

Tínhamos motivos de sobra para desafiar os regimes que vieram e pô-los em causa. Pois o que devemos fazer quando algo vai contra a nossa consciência e revolta o nosso ser? Tínhamos motivos morais, éticos, além da responsabilidade acrescida para como povo para tentar derrubar os regimes perversos e sanguinários que existiram no nosso país. Tínhamos os mesmos motivos que Cabral para desencadear uma revolução…, uma nova Luta pela alma do povo. Como Cabral, também tínhamos motivos para Lutar. Pois nem o seu sacrifício foi em vão, nem o seu sacrifício serviu para libertar o povo na verdade.

Que povo, que cidadãos, que seres humanos merecem viver num Estado como este? Um estado quase pária? Já há muito fomos considerados “Estado Falhado”, agora “Narco-Estado”, o que falta ainda vir? Sermos considerados um “Estado Terrorista” - um “Estado Pária” -, vai um passo. E vai menos de dois passos até sermos invadidos por alguma força estrangeira como o Mali. Deus queira que não. De sermos transformados num protectorado; Deus queira que não. De sermos abandonados aa nossa sorte por se entender que a nossa incapacidade e irresponsabilidade não permite nenhuma solução nesta Terra. Será que esta terra é boa mas o povo não presta? Ou será que este povo é maravilhoso mas os seus políticos são como erva daninha? Deus queira que se venha descobrir que temos bons políticos mas aqueles que neste momento desempenham esse papel não são políticos, apenas, na confusão e desorganização do país, enganaram-se na profissão.

Acham que agora já podemos dizer e com razão desta vez que “já chegamos a um ponto que não podemos descer mais”? Que chegamos por fim ao “piso zero” da nossa decadência e vergonha, como país e povo?” Será que “pior que isto já não é possível?” Ou ainda vamos descobrir pior? Será que “a pouca vergonha chegou ao seu limite?” Não creio, Einstein disse que só duas coisas são infinitas, o Universo e a estupidez humana… por isso tenho medo de alguns dos nossos políticos, pois eles descobrem sempre uma maneira de fazer pior do que já fizeram, de descer mais do que já desceram, de envergonhar-nos mais do que já estamos, como cidadãos em particular e como povo em geral. Será que de facto não há limites para o disparate, a pouca vergonha e falta de sentido de Estado de certos políticos? Sempre que penso que já chegamos ao “ground zero” da nossa decadência e vergonha, como país e povo, descubro que ainda falta mais um nível para descer.

Se quisermos contar a história política destes anos da democracia deparamos com um vazio de ideias e de homens de Estado de tal magnitude que é quase impossível entender. Nenhum estadista, nenhum ministro, nenhum vulto que seja que que mereça esse nome. Nenhum homem político - excluídas as simpatias pessoais e incapacidade para entender quem realmente é grande - que mereça ser recordado para a posteridade. Nenhum acto que valha uma página de História, apenas futilidade, conspirações, delapidação da coisa pública, traições, assassinatos, numa sequência negra e torpe que é a nossa história recente.
Sabemos que durante todos estes anos tivemos dezenas e dezenas de ministros, dezena de centenas de deputados, várias dezenas de secretários de Estado dos quais, tirando as suas famílias, ninguém se lembra mais; pela simples razão de não terem realizado obra alguma. Porque é que tanta gente não conseguiu realizar obra alguma?
Posso dizer que num sistema apodrecido realizar alguma obra é quase impossível pois isso é nefasto para a maioria dos que pertencem a nomenclatura, mas sempre se podia ter tentado. Remar contra a maré, deixar algo para que as gerações vindouras se orgulhem. Algum degrau onde passam se apoiar para crescer, realizar por fim…
Há muitos políticos que continuam por aqui como se nada fosse, que durante toda a desgovernação destes anos todos, que nos foram levando pela montanha abaixo eram governantes e muito respeitados. Fizeram parte de todo este processo que nos levou na enxurrada até aonde chegamos, mas hoje é como se nada fosse, como se tivessem nascido ontem; e como bebes recém-nascidos, puros e impolutos, dão conselhos, querem ainda Governar de novo. Se calhar entretanto foram fazer algum “curso de governar” que não tinham antes e agora estão aptos para de novo virem nos ensinar como se faz a gestão de um Estado.


V
GOVERNAR, NÃO BASTA QUERER
Há quem pense que para Governar basta fazer “campanha” e apoiar um candidato. Ser apenas grande mentiroso e “baredur de padja”, ser penas “djamadur” garandi; não ter nenhum escrúpulo e estar sempre do lado dos que têm poder no momento; ser em suma um trampolineiro exímio ou ter um lugar qualquer num comité central qualquer de um partido qualquer. Há quem pense que é uma questão de dinheiro; há quem pense que é uma questão de ser apenas “mais tribalista”, “mais religioso”, mais “desviador de fundos” que uns ou outros.

Há quem pense que por ter um diploma, uma licenciatura, qualquer seja, logo esta se preparado para governar. Por tudo isso que acabamos de dizer é que tanta gente quer ser ministro ou governante qualquer, e acredita mesmo que pode ser. E não apenas porque piores que ele já foram (muitos só têm esta verdade para argumentar com as suas consciências, esquecendo que na Guiné sempre encontrará pior antes dele, pois nunca, em nenhum país do mundo, em nenhum tempo, houve sítio que tantos incompetentes governaram. É caso para dizer que nunca tantos foram destruídos tanto por tão poucos.

Mas nada de mais errado. Para governar deve se estar preparado para isso, ter capacidades vastas, conhecer áreas tão distantes como a diplomacia e a história, a economia e sociologia, antropologia ou ciências da educação. Ter uma cultura geral vasta e multifacetada, não haver um assunto na terra que seja levado a sua presença que você não tenha um conhecimento - mesmo que parcial apenas, mesmo que relativo apenas - disso. E não é apenas o proverbial “saber tudo de um pouco e um pouco de tudo”, mas estar preparado para passar horas e horas trabalhando, dissecando dossiers, organizando e liderando equipes de trabalho lúcidos, tomando decisões que por mais duras que sejam, por mais impopulares, desde que sejam para o bem da Pátria, argumenta-las e segura-las, doa quem doer.

 Mas isso não basta. Isto é apenas uma parte: quem quer Governar de verdade, um país como o nosso, tem que decidir que a sua vida pessoal e da sua família a partir desse instante estará sempre em segundo plano. Tem que ser homem de um mandato apenas, mas um que valha por dez. E tem que ter a capacidade pessoal, força anímica, coragem desmedida para sacrifícios imensos. Tem que estar disposto em qualquer instante a ser morto; mas sem esquecer de preparar a própria morte, para que dela, se tire os dividendos para o porvir. Pois pior que morrer em vão só viver em vão.

O Governante que poderá resgatar esta nação da vergonha com que se cobriu e repô-la de novo com todos os direitos e deveres, cu rispito, no seio da Nações do mundo, tem que ser mais do que apenas mais um na imensa lista dos que já por aqui passaram sem deixar rastos. Quem poderá resgatar este povo do opróbrio com que o cobriram e cobrem tem que ser o seu vingador, o vingador deste povo, desta gente, desta mundivisão destruída.

Na verdade este povo precisa de um vingador que não tenha olhos, nem ouvidos e boca; que não tenha tribo nem cor da pele; um que não tenha pai e mãe, filhos e netos; um que vem do nada para lá regressar; um que tenha apenas uma ideologia e um querer chamado guineendade; um que use apenas a “razão pura” para consubstanciar os seus actos; um que não tenha “nada a perder” e todo um mundo a ganhar para o povo; um que tenha a coragem de caminhar sobre os ossos dos seus antepassados; Um que não tem nada a ver com as cerimónias animistas e que nelas não se reveja jamais. Um que exista apenas em função de e para “vingar o povo” numa vingança que é a sua sublimação; um que só exista para a realização do povo e se consuma totalmente nesse desiderato.

Um que não deixe pedra sobre pedra, de todos os nossos males e desgraças, para que por fim as sementes do nosso envenenamento como povo sejam expurgadas para todo o sempre. Um que ponha fim para sempre ao abastardamento do povo. Um que saiba e aceite que a sua vida poderá ter, se tal for necessário, apenas um destino: morrer para a redenção desta nação e seu povo. Em suma um criador do povo. Um que esteja disposto a morrer no cumprimento das suas funções, um que seja visceralmente anti tribalista, um para quem a Nação só tem sentido quando todos participam de outra forma nada valerá a pena.

Um que não pertença ao sistema político corrupto e degradado que existe. Um que nunca tentou corromper os militares ou os instigou alguma vez para negócios políticos. Um que salve o que resta ainda deste exército.

Precisamos de um Presidente/Primeiro-ministro de verdade, que não tenha nenhum compromisso com ninguém, nenhum favor a pagar, nenhuma divida com nenhum político no passado. Limpo de todos os vícios do passado, limpo de nunca ter estado nas sucessivas governações “desgovernativas”. Um que não anseia nem aspira por um segundo mandato, pelo contrário não quer absolutamente esse mandato. Mas que deixe o caminho traçado que nem um Mustafa Kemal que setenta anos depois da sua morte o caminho traçado continua limpo, claro e exequível para o progresso cada vez maior desse povo.

VI
UM MOVIMENTO COM UM SÓ OBJECTIVO: DIGNIDADE PARA TODOS NÓS.

Qual deve ser o comportamento de um cidadão digno quando os próprios Políticos são os primeiros destruidores do Povo e da Nação? Apelar para que a maioria silenciosa se levante por fim? Eu pergunto a maioria silenciosa deste povo que esta farto de um sistema que nunca lhe trouxe nada de bom, nem um bocadinho de paz numa vida inteira de privações, atribulações, de fome, guerra, suor e sangue, numa existência miserável que não merece, não pediu, não quer, mas da qual nunca pode sair por culpa desses políticos que são eleitos apenas para o destruir e roubar?

Um cidadão digno, que se respeita a si mesmo, num país como este qual deve ser o seu comportamento? Tem dois caminhos: ter medo de ser espancado e/ou morto ou usar o seu direito a indignação e dizer com todas as letras o que vai na alma de milhares e milhares como ele. Se se esses milhares não forem cobardes, se por uma vez na vida resolverem morrer pela sua dignidade, este aqui não morrerá e nem será espancado.

O que não foi feito até agora deve sê-lo agora: direccionar a indignação e o ódio desses milhares de deserdados e fazer com que a juventude totalmente perdida da nação, se levante para a abanar o sistema como se fosse uma goiabeira prenhe de políticos que caíram com fragor, pois só se pode construir esta nação contra os que pretendem destrui-la.

Tem que ser através de um movimento amplo, tão amplo que destrua de raiz todas as veleidades de lutar contra ela e tentar destruí-la. Tem que ser um movimento de Renascimento Nacional, um movimento de todos aqueles que odeiam aqueles que destruíram o nosso país. Um movimento daqueles que sentem vergonha dos políticos que temos. Que sentem vergonha da maneira e por quem são representados lá fora. Que sentem vergonha da maneira que as pessoas se posicionam no xadrez político nacional para beneficiarem de benesses no futuro.

Um movimento de um programa que só tem um ponto: Construir este país pedra sobre pedra como foi destruído pedra sobre pedra durante 40 anos.

E não é preciso mais nada.

Que a “Transição” nos sirva na verdade para transitar da vida desgraçada que tivemos durante quarenta anos, dos erros clamorosos, dos enormes disparates nacionais, da dependência cada vez mais profunda do exterior ao ponto de um dia não “sobrarmos” com Independência nenhuma. Que a “Transição” nos sirva finalmente para transitar de “políticos” que nada servem para cidadãos capazes de levantar este país do Chão e fazer deste povo, por fim, um que se orgulhe dos seus dirigentes e de si mesmo.

Fernando Teixeira
Bissau, 13 de Maio de 2013, no ano de todas as Transições.

G.BISSAU

 OS QUE ANDAM FORA DO PAÍS

Éder cresceu numa instituição sem deixar esvaecer o sonho do futebol. O avançado do Sp. Braga recorda as traquinices no Lar Girassol, os puxões de orelha, os raspanetes por causa dos vidros partidos. Chegou a ser afastado do futebol por causa das notas. Resistiu a tudo. E venceu.

MF - Nasceu na Guiné-Bissau e foi para Lisboa com três anos. Sentindo uma ligação à Guiné-Bissau, nunca pensou representar essa seleção?
- Vim para cá muito novo e, desde então, estou habituado à cultura portuguesa e sinto-me português. Mas tenho as minhas raízes. Nunca fui lá e é claro que gostaria de visitar o país onde nasci. Porém, foi aqui que cresci e foi aqui que aprendi tudo. Por essa ligação, e por tudo o que o país me deu, optei por representar Portugal.

- O que sentiu quando os seus pais tomaram a decisão de o colocar num colégio? Foi difícil de aceitar?
- Sim, foi difícil de aceitar. Até porque estava habituado a ver os meus colegas a viver com os pais. Depois de um tempinho na instituição, comecei a adaptar-me e vi que era o melhor para mim.

- O que recupera do Lar Girassol, onde esteve desde os oito anos?
- Muita coisa. As brincadeiras com os meus colegas. Ainda tenho muitos amigos que fiz na instituição. As futeboladas que fazíamos... Tenho uma série de boas recordações.

- Deve haver muitos episódios interessantes desse período...
- Há alguns episódios engraçados, sim. Um deles tem a ver com o facto de jogarmos futebol lá no pátio e eu partir muitos vidros. Tive alguns castigos por causa disso. Uns puxões de orelhas, uns raspanetes, ir para cama mais cedo, não ver televisão. Por outro lado, chegaram a tirar-me do futebol por causa das notas e o treinador do Adémia foi ao colégio pedir para eu jogar. Mesmo que eu não treinasse durante a semana, ele ia pedir que eu fosse só ao jogos. Também na altura do Adémia, havia um senhor que tinha um talho, e que por cada golo que eu marcava oferecia-me uma febra. Então, no final da época, fazíamos sempre uma almoçarada com as febras todas.

- Quando visita o Lar Girassol, as crianças reconhecem-no? O que lhes costuma dizer?
- Sim, sim, mesmo os mais miúdos sabem quem eu sou. Agora não tenho tido muito tempo, mas continuo a ir lá. A mensagem que costumo deixar é simples. Digo-lhes que é possível alcançar os nossos objetivos se acreditarmos.

- Como começou a jogar futebol a nível federado?
- Eu jogava na escola, no Instituto Educativo de Souselas, costumava participar nos torneios do desporto escolar e um professor meu viu-me a jogar na escola. Perguntou-me porque é que não ia treinar ao Adémia, onde ele era treinador. Ele fez-me o convite, eu pedi autorização no colégio e foi assim que comecei a jogar.

- Não conseguiu entrar na Académica mais cedo por ser estrangeiro. Pensou desistir? Chegou a parar um ano. O que fez durante esse período?
- Durante esse ano joguei futebol somente com os amigos, por diversão. Foi complicado porque foi no ano da transição de júnior para sénior e muita gente me disse que seria difícil ficar parado durante esse ano. Cheguei a pensar que ia ser complicado, não pensei em desistir, mas sabia que ia ser complicado. Exigiu muita vontade e algum espírito de sacrifício.

- Foi para o Tourizense ganhar 400 euros. O que fez com os primeiros salários?
- Dei parte à minha mãe e, como o dinheiro era necessário no dia-a-dia, gastei-o nas coisas essenciais.

- Já nessa altura tinha esperanças e sentia ter capacidades para voos mais altos?
- Sim, sempre acreditei. Sabia que era difícil, mas acreditava nas minhas capacidades e, com a ajuda dos amigos, consegui chegar onde cheguei.

fonte:MaisFutebol