sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A ERRÁTICA GUINÉ-BISSAU

Raúl M. Braga Pires, politólogo, arabista, professor da Universidade de Rabat e Investigador-Correspondente do Observatório Político em Marrocos, doutorando do ISCSP, edita  com regularidade um blogue, também publicado no conhecido semanário "Expresso", sobre assuntos do Médio Oriente e Magrebe, tendo dedicado alguma atenção à Guiné-Bissau, onde se deslocou várias vezes. Lançou recentemente um livro "Maghreb/Machrek - Olhares luso-marroquinos sobre a Primavera Árabe" (Diário de Bordo, Lisboa, 2013), onde reproduz todos os textos que publicou no "Expresso" e no dito blogue. Após uma incursão pelo Norte de África, Médio Oriente e Sahel, ou seja o prato forte da obra, digamos assim, apresenta três capítulos (ou, se se quiser, 3 "posts") relevantes e bastante  informativos sobre a atualidade daquele país lusófono oeste-africano, que, no seu entender, tem que ver com a evolução política e estratégica das regiões contíguas. Daí a sua inclusão. Depois de ler o que Raúl Braga Pires escreveu, elaborei uma pequena recensão, que complementei com outros elementos e com algumas reflexões da minha lavra.
O autor começa por se referir à "intentona/inventona" (?) de 21 de Outubro de 2012, classificando a situação como sendo "confusa" e considerando que "a realidade ultrapassa em muito a ficção". Acrescentaria que estas classificações e considerações são quase eufemísticas perante o caos que é hoje a Guiné-Bissau e do qual teima em não sair. Braga Pires menciona a balantização do Poder político e militar (que, aliás, não é de hoje, mas que se terá acentuado com o "putsch" de 12 de Abril de 2012), em que Kumba Ialá emerge com ambições ao Poder (no meu entender e para que as coisas não aparentem ser tão óbvias, Kumba tem no terreno, como se sabe, gente sua e poderá controlar a situação de fora sem necessidade de grande exposição pessoal, manobra táctica que me parece óbvia). Menciona um sem-número de factos, bem como algumas suposições plausíveis, atenda-se ao contexto. Em primeiro lugar, assistia-se - e assiste-se - a uma tribalização do poder político e militar, donde no conflito balantas-felupes, os primeiros levaram necessariamente a melhor. As danças e contra-danças entre as classes castrense e política, a promiscuidade generalizada sobretudo a este nível, são o que se adivinha e não valerá a pena pôr muito mais na carta. Carlos Domingos Gomes (Cadogo), PM deposto e frustrado candidato presidencial, continua a aspirar elevar-se um dia à cadeira do Poder. A actuação do capitão  Pansau N'Tchama é no mínimo surrealista e as suas ligações a Portugal e à CPLP (leia-se Angola e Cabo Verde) abstrusas. O autor suscita as estranhas coincidências de ter chegado a Bissau com uma equipa de reportagem a escassas horas da "intentona/inventona" e da detenção de Pansau N'Tchama, com alegadas ligações a Portugal, ter precisamente ocorrido na véspera da sua partida. 
Braga Pires faz uma análise do primeiro trimestre de 2013, salientando a chegada de Ramos Horta e a sua declaração algo desmedida ao considerar a "Guiné-Bissau como o país mais seguro da África Ocidental" (sic). O representante da ONU chega também num momento em que o PAIGC assina o Pacto de Transição e em que era já perceptível que o período transitório teria de ser necessariamente prorrogado. Neste quadro, há que tomar-se em atenção que o recenseamento biométrico da população não poderia ser feito durante a época das chuvas, o que levaria inevitavelmente a um adiamento das eleições. Apesar da descentralização anunciada e auto-elogiada pelo Governo, o autor põe em causa o recenseamento biométrico, efectuado sem grande publicidade nem campanhas de sensibilização junto da população. Neste contexto, acresceriam ainda enormes dificuldades de ordem logística e financeira. Tendo em conta os factores enunciados, o  próprio PR admitiu a inevitabilidade de se prolongar o período de transição.
Ao referir-se à cimeira da CEDEAO (Comunidade Económica de Estados da África Ocidental), que a Guiné-Bissau integra, considera Braga Pires que  "a solução da questão Norte do Mali/terrorismo estará sempre dependente duma resolução dos conflitos internos da Guiné-Bissau, ambos os países têm governos provisórios saídos de golpes de Estado". Com efeito, os dois países ter-se-ão comprometido a realizar sufrágios eleitorais até 31 de Dezembro de 2013. Viu-se. Apenas o Mali o cumpriu.
Por outro lado, haveria a necessidade do Governo de Transição ser reconhecido internacionalmente, para poder levar a cabo as tarefas a que se propôs, designadamente a condução do processo eleitoral, o que o autor admite como plausível. Mas, acrescento, com excepção da CEDEAO, mais ninguém o reconhece.
Menos claro foi o julgamento do capitão Pansau N'Tchama que acusou o deposto CEMGFA, Zamora Induta, de o ter coagido à tentativa de "putsch" de 21 de Outubro de 2012, acusando as autoridades gambianas de envolvimento na suposta operação, bem como inúmeras personalidades locais com ligações ao PAIGC e a figuras militares e politicas, algumas de destaque como é o caso de Domingos Simões Pereira, então Secretário Executivo da CPLP. O julgamento, aduzo, poderia, por assim dizer, "limpar o terreno" de muitos elementos incómodos e permitir uma actuação "mãos livres" de António Indjai (actual CEMGFA) e de Bubo Na Tchuto, entre outros. Até aqui nada de novo, a Guiné-Bissau conhece desde há muito estes processos sombrios como devem ser conduzidos e para que servem.
Alguns factos, porém, vêm a alterar o panorama. Em Abril de 2013, o almirante Bubo Na Tchuto é apanhado numa armadilha muito bem montada pela DEA (Drug Enforcement Agency) norte-americana, detido em águas internacionais e levado para os EUA, a aguardar julgamento. Estavam em causa 4 toneladas de cocaína (cujo valor médio na rua pode atingir entre 130 a 160 milhões de Euros!). Sabia-se que Na Tchuto, bem como Papá Camará (Chefe de Estado Maior da Força Aérea) e o próprio António Indjai, estão desde há muito envolvidos no tráfico de droga. O primeiro estava identificado pela DEA desde 2010. Tanto quanto sei por outras fontes, a operação consistiria na troca de armamento das Forças Armadas da Guiné-Bissau para a guerrilha colombiana das FARC por cocaína. Não se trataria de armamento convencional, mas, sim, de mísseis terra-ar! Os agentes da DEA fizeram-se passar por membros da guerrilha. Em suma, estamos a falar de uma operação sofisticada a uma escala muito grande e que teria outros envolvimentos cujos pormenores, porém, desconheço.
Por outro lado, soube-se que Na Tchuto permitiu a evasão de  3 jihadistas mauritanos acusados de terem assassinado 4 turistas franceses no sul da Mauritânia em 2007. Um agente secreto norte-americano teria sido despachado para o local mas apareceu morto (degolado), o que indicaria a presença de fundamentalistas islâmicos. Na opinião de  Braga Pires, para além de traficante de droga, Bubo Na Tchuto teria ligações à AQMI (Al Qaeda no Magrebe Islâmico) que opera na África Ocidental.
Para a  detenção de Na Tchuto, os norte-americanos terão presumivelmente obtido a cumplicidade de Indjai, uma vez que este queria livrar-se de um rival e os norte-americanos a detenção do almirante. Este último era objecto de um processo de reabilitação por envolvimento num golpe de Estado (mais um no rol que averba a Guiné-Bissau) em 26 de Dezembro de 2011, que levou ao seu exílio temporário na Gâmbia. Ora, Na Tchuto tinha por objectivo principal substituir Indjai como CEMGFA. É tão simples quanto isto.
Como refere a justo título o autor e citamos: "A primeira novidade da acusação apresentada pelos americanos é absolutamente demolidora para as duas principais figuras do Período de Transição: o Presidente interino, Manuel Serifo Nhamadjo e o Primeiro-ministro interino, Rui Duarte Barros, são implicados nas provas apresentadas pela DEA." Aparentemente, essas altas figuras do Estado beneficiariam de 13% do "produto/negócio" (?), apesar dos desmentidos indignados, a dúvida obviamente permanece.
Dizer que a credibilidade da Guiné-Bissau e das mais altas figuras civis e militares do Estado foi afectada é um mero eufemismo. Resta saber neste quadro pouco auspicioso como é que a Guiné-Bissau se vai financiar para poder realizar eleições? O próprio Secretário-geral da ONU já admitiu que pode deixar cair a Guiné-Bissau e abandoná-la como a Somália. Se a Guiné-Bissau não consegue assumir as funções basilares de um Estado será ou não um Estado falhado? Era bom que não se mastigassem as palavras.
Aliás, os acontecimentos mais recentes naquele país, caso dos 74 sírios embarcados à força nos aviões da TAP, que levaram à suspensão das ligações aéreas Lisboa-Bissau, reforçam a nossa tese, isto é, que não se está perante um Estado minimamente sério.
No meio de tudo isto e tendo em conta o julgamento do capitão  Pansau N'Tchama, as tensões étnicas, as fricções do foro castrense, as rivalidades entre diferentes pseudo-líderes civis e militares e, agora, os atritos inter-religiosos, geram um quadro de forte instabilidade que pode desembocar numa guerra civil gravíssima. O alerta aqui fica.
Registo que Raúl Braga Pires chama a atenção para um facto novo: o conflito entre sunitas e xiitas. A maioria da população islamizada é como se sabe de obediência sunita, mas os libaneses, de fé xiita, há muito radicados no país, já criaram raízes e prosélitos  na Guiné-Bissau. Iremos assistir à criação de mais um foco de tensão, até agora insuspeitado?
Haveria que reflectir-se sobre a intervenção francesa no Mali e no problema da droga. A questão é, para todos os efeitos, regional. De acordo com várias fontes fidedignas, o circuito da droga parece estar a alimentar os jihadistas e a Guiné-Bissau aparece nesta equação como um factor que, pelas razões expostas, não pode ser ignorado. A pacificação do Mali - e sabendo-se da proliferação dos grupos islamitas por todo os Estados do  Sahel - é uma questão de importância vital, mas essa intervenção não pode limitar-se apenas ao Norte do Mali, como se tratando apenas de um abcesso localizado a extirpar, a Guiné-Bissau, cujos governantes actuais não merecem qualquer credibilidade, terá também de ser intervencionada, ou seja o alargamento da Missão de Paz no Mali pode (deve) estender-se à Guiné-Bissau.
Bom, já agora, eleições para quando?
 
VERSION FRANÇAISE
 
L' erratique Guinée-Bissau
Raúl M. Braga Pires, politologue, arabiste, professeur à l' Université de Rabat et Chercheur-Correspondant de l'Observatoire Politique au Maroc, prépare sa thèse de doctorat à l'Institut de Sciences sociales et politiques de Lisbone et, édite  régulièrement un blog, aussi publié dans " Expresso ", un réputé hebdomadaire portugais, sur les affaires du Moyen Orient et du Maghreb, ayant dédié une attention accrue à la Guinée-Bissau, où il s'est déplacé à plusieurs reprises. Il a fait récemment la présentation de son livre  "Maghreb/Machrek - Olhares luso-marroquinos sobre a Primavera Árabe" (Diário de Bordo, Lisboa, 2013 - en traduction " Maghreb/Machrek - Des regards luso-marocains sur le Printemps arabe "), où il reproduit tous les textes qu'il a publié sur l' "Expresso " et dans ledit blog. Après une incursion sur l'Afrique du Nord, le Moyen Orient et le Sahel, c'est à dire le plat de résistance de l'?uvre, il présente trois chapitres (ou, si on veut trois " postings ") importants et très informatifs sur l'actualité de ce petit pays ouest-africain lusophone, qui, selon son point de vue, a une relation avec l'évolution politique et stratégique des régions avoisinantes. Donc son inclusion. Après avoir lu ce que  Raúl Braga Pires a écrit j'ai fait une petite recension que j'ai complémenté  avec d'autres éléments et quelques réflexions à moi.
L'auteur commence par mentionner le coup d'État " essayé/inventé?" (?) du 21 octobre 2012, classifiant la situation comme étant " confuse "  et tout en considérant que la " réalité dépasse de loin la fiction ". J'ajouterai que ces classifications et considérations sont presque des euphémismes devant le chaos qui est aujourd'hui la Guinée-Bissau et dont elle persiste à ne pas s'en sortir. Braga Pires se réfère à la   " balantization " du pouvoir politique et militaire (c'est à dire la prépondérance de l'ethnie ballante sur les autres, que n'est sûrement pas un phénomène de nos jours mais que s'est accentué avec le "putsch" du 12 de avril  2012), dans lequel  l'ex-président de la République d'ethnie ballante, Koumba Yalá, limogé il y a déjà quelques années par un coup d'Etat, a émergé avec des ambitions au Pouvoir (pour que les choses ne soient pas si transparentes que ça, Koumba a sur le terrain, comme on le sait, des fidèles et il pourra contrôler la situation de l'extérieur sans avoir besoin d'une exposition personnelle trop visible et engagée, une man?uvre tactique perceptible). Il mentionne une énumération de faits, aussi bien que quelques suppositions plausibles, compte tenu du contexte. Tout d'abord, on témoignait - et on témoigne - une tribalisassion du pouvoir politique et militaire, d'ailleurs dans le conflit ethnique balantes-djolas, les premiers plus nombreux ont naturellement pris l'avantage. Les danses et contre-danses entre les classes militaires et politique, la promiscuité généralisée surtout à ce niveau-ci, sont ce qu'on peut aisément deviner et il ne faut pas donner trop d'explications. Carlos Domingos Gomes (Cadogo), premier ministre destitué et candidat frustré à la Présidence de la république, continue á soutenir des ambitions à la chaise du Pouvoir. Le moins qu'on puisse dire c'est que les agissements du capitaine  Pansau N'Tchama sont surréalistes et ses liaisons au Portugal et à la CPLP (Communauté des pays lusophones - en clair, l'Angola et le Cap Vert, selon la perspective bissau-guinéenne) abstruses. L'auteur suscite les étranges coïncidences, d'une part d'avoir arrivé à Bissau avec une équipe de reportage a quelques heures à peine du coup d'Etat "essayé/inventé " ( ?) et d'autre part la détention de Pansau N'Tchama, ayant de présumées liaisons au Portugal, avoir eu lieu précisément la veille de son départ du pays.
Braga Pires fait une analyse du premier trimestre 2013, relevant l'arrivée de Ramos Horta (représentant du Secrétaire général de l'ONU pour le pays) et sa déclaration un peu démesurée en considérant la " Guinée-Bissau comme le pays le plus sûre de l'Afrique de l'Ouest " (sic). M. Ramos Horta arrive aussi à un moment où le PAIGC (Parti africain pour l'indépendance de la Guinée et du Cap-Vert, qui a mené la lutte de libération nationale et a eu les responsabilités de gouvernement  pendant plusieurs années) a signé le Pacte de Transition et on s'aperçoit que la période transitoire devrait nécessairement être remise à plus tard. Dans ce contexte, il faut tenir compte que le recensement biométrique de la population ne pourrait être fait pendant la saison des pluies, ce qu'amènerait, et pour cause, à un ajournement des élections. Malgré la décentralisation annoncée et auto-louée par le gouvernement lui-même, l'auteur met en cause le recensement biométrique, accompli sans publicité digne de ce nom, ni campagnes de publicité de sensibilisation auprès de la population. Dans ce cadre, s'ajouteraient encore des énormes difficultés d'ordre logistique et financière. Ayant en vue les facteurs énoncés, le Président de la République intérimaire a admis l'inévitabilité de prolonger la période de transition.
En mentionnant le sommet de la CEDEAO (Communauté économique des Etas de l'Afrique de l'ouest), dont la Guinée-Bissau en fait partie, Braga Pires considère que " la solution de la question Nord Mali/terrorisme dépendra d'une résolution des conflits internes, étant donné que les deux pays ont des gouvernements provisoires issus de coups d'Etat ". En effet tous les deux s'auront formellement engagés à accomplir des suffrages électoraux jusqu'au 31 décembre 2013. On a rien vu de cela. Seulement le Mali a accomplis avec cette tâche.
Par contre, il s'avérait nécessaire que le gouvernement de transition puisse être reconnu internationalement, pour mener à bien les tâches qu'il s'est lui-même engagé, notamment la  conduite du processus électoral, situation  que l'auteur admet comme plausible. Toutefois, j'ajoute, hormis la CEDEAO, personne ne le reconnaît officiellement.
Moins clair a été le procès du capitaine Pansau N'Tchama qui a  accusé le destitué chef-d 'état-major des armées, Zamora Induta, de l'avoir contraint à l'essai (?) de "putsch" du 21 octobre 2012, montrant du doigt les autorités gambiennes d'implication dans la supposée opération, ainsi que de nombreuses personnalités locales ayant des rapports avec le PAIGC et des responsables militaires et politiques, quelques-uns de proéminence, comme c'était le cas de Domingos Simões Pereira, alors Secrétaire Exécutif de la CPLP. Le procès, j'allègue,  pourrait, pour ainsi dire, " nettoyer le terrain "  de plusieurs éléments gênants et de permettre une performance " aux mains libres " d'António Indjai (à présent chef-d 'état-major des armées) et de Bubo Na Tchuto, parmi d'autres. A ce point où nous sommes arrivés, rien de nouveau à signaler, la Guinée-Bissau connaît depuis toujours ces procédés sombres, comment ils doivent être conduits et quel est leur but.
Néanmoins certains faits  ont commencé à changer le scénario. Au mois d'avril  2013, l'amiral Bubo Na Tchuto est tombé sur un piège très bien monté par la DEA (Drug Enforcement Agency, l'agence de combat au trafic de drogue des États unis). L'amiral a été détenu sur les eaux internationales en haute mer et emmené aux USA pour y être jugé. En cause, quelques 4 tonnes de cocaïne, dont la valeur estimée de marché doit se chiffrer entre 130 à 160 millions d'Euros ! On savait que Na Tchuto, ainsi que Papá Camará (chef-d 'état-major de l'Armée de l'air) et même le tout puissant António Indjai, sont imbriqués il y longtemps dans le trafic de stupéfiants. Le premier était identifié par la DEA depuis 2010. Tant que je sache par d'autres sources, l'opération consisterait dans l'échange d'armement des Armées de la  Guinée-Bissau pour la cocaïne fournie par la  guérilla colombienne des FARC. Bien sûr, il ne s'agissait pas d'une chose mince, c'est à dire de l'armement conventionnel, mais des missiles  sol-air ! Les agents de la DEA se sont déguisés en guérilleros et Na Tchuto a été piégé. En d'autres termes, nous nous référons à une opération sophistiquée à une très grande échelle et qui aurait, bien évidemment d'autres implications, dont les détails toutefois m'échappent.
Par contre, on sait que Na Tchuto a autorisé l'évasion de 3 djihadistes mauritaniens accusés d'avoir assassiné 4 touristes français dans le sud de la Mauritanie en 2007. Un agent secret américain aurait été envoyé sur place, mais il est apparu mort (égorgé), ce qui indiquerait la présence de fondamentalistes islamiques. Selon Braga Pires, en plus de narcotrafiquant, Bubo Na Tchuto aurait des  associations  à AQMI (Al Qaeda dans le  Maghreb Islamique) qui opère dans l'Afrique de l'Ouest.
Pour la détention de Na Tchuto les américains devraient vraisemblablement obtenir la complicité d'Indjai, car il voulait se débarrasser d'un rival et les américains l'arrestation de l'amiral-trafiquant. Ce dernier a fait l'objet d'un processus de réhabilitation pour son implication dans un coup d'Etat (un de plus sur la longue liste qui enregistre la Guinée-Bissau depuis son indépendance) le 26 décembre 2011, qui a conduit à son exil temporaire en Gambie. Maintenant, l'objectif principal était l'intention de remplacer Indjai comme Chef d'État-major des armées. C'est si simple que ça.
Comme mentionne à juste titre l'auteur et je cite : " la première nouveauté de l'accusation présentée par les Américains est absolument dévastatrice  pour les deux figures de proue de la période de transition : le Président par intérim, Manuel Serifo Nhamadjo et le premier ministre par intérim, Rui Duarte Barros. Tous les deux sont impliqués dans les preuves présentées par la DEA. " Apparemment, ces personnalités de premier rang  de l'Etat bénéficieraient de 13 % du "produit/entreprise" (?), malgré ses démentis indignés, le doute évidemment reste.
Affirmer que la crédibilité de la Guinée-Bissau et des hauts fonctionnaires civils et militaires de l'Etat a été affectée est un simple euphémisme. Il reste à savoir dans ce contexte peu propice comment la Guinée-Bissau pourra se financer afin d'organiser des élections ? Le Secrétaire général de l'ONU lui-même a admis qu'il peut laisser tomber la Guinée-Bissau et l'abandonner comme la Somalie. Si la Guinée-Bissau ne parvient pas à prendre en charge les fonctions essentielles d'un État est-ce que elle peut être considérée ou pas ce qu'on appelle  un État en faillite? On ne doit pas trop mâcher les mots.
D'ailleurs les évènements plus récents dans ce pays - c'est le cas des 74 réfugiés syriens avec des faux passeports turcs, embarqués   dans un avion  de la TAP (la compagnie de drapeau portugaise),  dont l'équipage  a été menacée par force à les mettre à bord - ont conduit à la suspension des liaisons aériennes Lisbonne-Bissau et, par conséquent, les liens directs de la Guinée-Bissau avec l'Europe. Cela renforce notre thèse, qu'on n'est pas devant un Etat qu'on doit prendre au sérieux.
Dans tout cela et compte tenu du procès du capitaine Pansau N' Tchama, les tensions ethniques, les disputes au sein des militaires, les rivalités entre différents pseudo-leaders civils et militaires et, maintenant, les frottements interreligieux génèrent une très forte instabilité qui peut se traduire, à terme, dans une guerre civile très grave. L'avertissement est donc fait.
Je remarque que Raúl Braga Pires attire l'attention sur un fait nouveau: le conflit entre sunnites et chiites. La majorité de la population islamisée dans le pays est  traditionnellement d'obéissance sunnite, mais les libanais, de foi chiite, depuis longtemps fixés en Guinée-Bissau, ont déjà créé des racines solides et des prosélytes. Est-ce qu'on va témoigner la création d'un autre foyer de tension, jusqu'à maintenant insoupçonné?
On devrait réfléchir sur l'intervention française au Mali et le problème de la drogue. La question est, à toutes fins utiles, régionale. Selon plusieurs sources fiables, le circuit de la drogue semble nourrir les djihadistes et la Guinée-Bissau s'affiche dans cette équation comme un facteur qui, pour les raisons déjà énoncées, ne peut pas être ignoré. La pacification du Mali - étant donné la prolifération des groupes islamistes dans tous les États du Sahel - est une question d'importance vitale, mais cette intervention ne saurait se limiter seulement au nord du Mali, comme s'il s'agissait, en bref, d'un simple abcès localisé et identifié à extirper. La Guinée-Bissau, dont les dirigeants actuels ne méritent aucune crédibilité, doit également être objet d'une intervention, à savoir l'extension de la mission du maintien de paix au Mali peut (doit) être étendue à la Guinée-Bissau.
Finalement, par ailleurs, les élections sont prévues pour le mois de mars prochain, mais est-ce que le calendrier sera respecté ?
 
ENGLISH VERSION
 
Erratic Guinea-Bissau
Raúl M. Braga Pires, political scientist, arabist, professor at the Rabat University and Observatório Politico's Correspondent-Researcher in Morocco, PhD student at ISCSP (Lisbon), regularly publishes on Maghreb/Machrek Blog, syndicated at the renown portuguese weekly "Expresso" newspaper on Maghreb and Middle Eastern issues and also dedicated some attention to Guinea-Bissau, were he has been several times. He recently published the book "Maghreb/Machrek - Olhares luso-marroquinos sobre a Primavera Árabe" - "portuguese-moroccan perspectives on the Arab Spring", (Diário de Bordo, Lisboa, 2013), reproducing most of the blog's texts. After an incursion on the north of Africa, Middle East and Sahel, core issues, he presents 3 revealing chapters and highly informative on the current situation in this West African lusophone country, which, in his perspective, has everything to do with the political and strategic evolution on the surrounding areas, enough reason to include Guinea-Bissau in this work. After reading what Raúl Braga Pires wrote, I decided to write this brief recension, which I complemented with some reflections on my own.
The author starts to refer to the "intentona/inventona" (real putch attempt/fictional putch attempt), of October 21st 2012, rating the situation as not totally clear, considering that "reality was way beyond fiction". I would add that this type of classification and considerations are almost euphemistical before the chaos that Guinea-Bissau is today. Braga Pires mentions the political and military balantization (from the Balanta ethnicity, not from today and stressed with the April 12th coup d'état), in which former President Kumba Iala still emerges with political ambitions (in my view, and for actions not to seem so obvious, Iala has on the field, a known fact, people on his behalf, allowing him to control the situation from the outside, avoiding his own personal exposition). The author mentions non-ending facts, as well as some plausible suppositions, according with the context. Firstly, there's a tribalisation of the political and military power, from where the Balanta ethnicity is clearly winning the battle against the Djola and Felupe ethnicities, based on ancient rivalries. The dances and counter-dances between the military and politicians, the generalized promiscuity mainly on that level are as we may guess, therefore not being worth to add more on this issue. Carlos Domingos Gomes (Cadogo), deposed Prime-Minister and frustrated presidential candidate, aspires still to reach one day the Chair of Power. The action of Captain Pansau N'Tchama is at least surrealistic and its ties to Portugal and CPLP - portuguese speaking countries - (meaning Angola and Cape Verde) abstruse. The author raises the strange coincidences arriving to Bissau with a media reporting crew, just two hours before the "intentona/inventona" took place and the arrest of Pansau N'Tchama, allegedly connected to Portugal, happening precisely on the eve of the crew's departure.
Braga Pires analyzes the first trimester of 2013, stressing the arrival of UN Special envoy and Ban Ki Moon's representative, Ramos Horta, and his disproportioned declaration considering "Guinea-Bissau has the safest country in Western Africa" (sic). Horta also arrives in a moment in which PAIGC (main political party) signs the Transition Pact, in a moment everybody had already understood that the interim period would be inevitably prolonged. It was obvious that the biometrical population census couldn't be made during the rainy season, which would have as a consequence the postponing of elections. Besides the announced decentralization of registration posts, the author doubts on its effectiveness, due to lack of publicity and field campaigns amongst the population. Also to add, in this context, huge logistical and financial difficulties. The Interim President, Manuel Serifo Nhamadjo, admitted himself the inevitability of prolonging the transitional period.
Refering to the ECOWAS Summit, which Guinea-Bissau integrates, Braga Pires considers that "the solution to the northern Mali/terrorism question will always be dependent on the resolution of internal conflicts in Guinea-Bissau, due to the fact that both countries have interim governments (Mali no more), both emerging from coups". In fact, both countries compromised to elections no longer than December 13th 2013. So far, only Mali accomplished with its word.
On the other hand, there would be the necessity for the interim bissau-guinean government to be recognized internationally, in order to be enabled to conduct an electoral process, which the author admits as plausible. But, and I add, with the exception of ECOWAS, no one else recognizes it, still.
Less clear was Captain Pansau N'Tchama's trial, who accused the deposed Military Chief-of-Staff Zamora Induta, of obliging him to participate on the October 21st 2012 attempted coup, accusing also the involvement of the gambian authorities in the supposed operation, as well as innumerous local personalities connected with PAIGC and military and political figures, like Domingos Simão Pereira, then CPLP's Executive Secretary. The trial, I adduce, could "clean the ground" from some "trouble makers" and allow a "hand-free" action to the current Military Chief-of-Staff, António Idjai, Bubo Na Tchuto, amongst others. So far nothing new, Guinea-Bissau is an expert on arranged gloomy processes like this.
Some new facts, however, changed the scenario. In April 2013, Admiral Bubo Na Tchuto is caught in a well-fitted trap by the north american DEA (Drug Enforcement Agency), in international waters and taken to the USA, awaiting now for trial. This case concerns to 4 tons of cocaine (which on street value could reach between 130 and 160 million euros!). It's public that Na Tchuto, as well as Papá Camará (Air Force Chief-of-Staff) and António Indjai, are involved in drug trafficking. The first one was identified by the DEA since 2010. As far as I know from other sources, the operation would consist in a weapons trade between Guinea-Bissau Armed Forces and the colombian guerilla FARC. The payment would be made with the cocaine. It was not conventional armament at stake, but land-air missiles! The DEA agents acted as guerilla members. In conclusion, we're talking about a highly sophisticated operation, involving certainly further details which I ignore.
On the other hand, it was known that Na Tchuto allowed the evasion of 3 mauritanian jihadists accused of having assassinated 4 french tourists in southern Mauritania in 2007. An american secret agent sent to Bissau, was found dead (beheaded), indicating the presence of islamic fundamentalists. According with Braga Pires opinion, besides drug trafiker, Bubo Na Tchuto might have connections to AQIM (Al-Qaeda in the Islamic Maghreb), operating in West Africa.
To detain Na Tchuto, the north americans might have counted on Indjai's complicity, since he was interested in getting read of the Admiral's competition. The later one was going through an administrative rehabilitation process, for his supposed participation, or not, on the December 26th 2011 attempted coup (another one), which lead him to temporary exile in Gambia. Na Tchuto's main goal was to replace Indjai as Chief-of-Staff, after his rehabilitation process, which was going well, by the way. As simple as that.
As the author clearly says and I quote: "The first novelty presented by the american accusation is absolutely demolishing to the two main figures of this transitional period: the Interim President, Manuel Serifo Nhamadjo and Interim Prime-Minister, Rui Duarte Barros, are implicated in the evidence presented by the DEA". Apparently, these two "Heads of State" would profit 13% commission from this "product/business" (not clear). Despite the indignant denials, the doubt stills obviously persisting.
Saying that Guinea-Bissau's credibility as well as its highest civil and military figures was affected, it's a mere euphemism. Still to know, in this non prosperous scenario, how will Guinea-Bissau finance itself in order to organize elections? The UN Secretary-General already admitted that the country could be left on its own, just like happened with Somalia. If Guinea-Bissau can't assume and accomplish with its basic State functions, is it or not, a failed State? It would be good not to chew the words.
Moreover, recent events in the country, where 74 syrians were forced to board on a TAP flight, which lead the portuguese airliner to suspend the Lisbon-Bissau connection, reinforces my point of not being before a serious State.
Having all this as a background, plus counting with captain's Pansau N'Tchama trial, ethnical tensions, military frictions, rivalries between civilian and military pseudo-leadership and now inter-religious rubbing, the scenario is of strong instability which might culminate in grave civil war. The warning is given.
I note that Raúl Braga Pires alerts towards a new fact: The conflict between sunnis and shias. The islamized population is, as we all know, mainly sunni, but the shia lebanese community long rooted in the country, already created proselytes. Will we attend the creation of another focal tension, so far unsuspected?
To reflect on the french intervention in Mali and on the drug problem, is a must. The issue is, by all means, regional. According with several accurate sources, drug routes seem to be nourishing jihadists and Guinea-Bissau, by the exposed reasons, is part of this equation, which mustn't be ignored. Mali's pacification - and being aware of the proliferation of islamist groups all over the sahel - is crucial, but this intervention mustn't be limited to northern Mali. Guinea-Bissau, in which the current leadership doesn't deserves any kind of credibility, must also see an intervention, meaning the Peace Keeping Mission in Mali can (should/must) be extended towards Guinea-Bissau.
In the meantime, general elections are, again, scheduled for March. Will it take place this time?


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/a-erratica-guine-bissau=f853486#ixzz2rz2ZD0dP

G.BISSAU

O POVO NÃO CONHECE A MAIOR PARTE DOS CANDIDATOS.AQUELES QUE QUEREM REPRESENTAR O NOSSO POVO,TÊM DE DAR A CARA.TPanaque