terça-feira, 12 de agosto de 2014

GUERRA SEM TRÉGUAS

União Europeia está calculando prejuízos das sanções

União Europeia está calculando prejuízos das sanções

A União Europeia continua calculando os potenciais prejuízos das proibições de importação de produtos europeus impostas por Moscou.

Em Bruxelas, em 14 de agosto, será realizada uma reunião de emergência de especialistas em agricultura sobre a questão de estabilização dos mercados. Pelas estimativas da Eurostat, o embargo russo afetará diretamente exportações no valor 12 bilhões de euros.
Alguns membros da UE (de entre aqueles quem mais vigorosamente defenderam as sanções contra Moscou), já estão pensando em processar a Rússia no âmbito da OMC. Mas, como lembrou o ministro do Exterior russo, Serguei Lavrov, Moscou foi forçada justamente por Bruxelas a introduzir medidas de resposta. Foi Bruxelas que flagrantemente violou as regras da OMC. A Rússia introduziu as suas medidas de salvaguarda justamente para “excluir, no futuro, quaisquer violações por nossos parceiros de compromissos perante a Federação da Rússia”, disse Serguei Lavrov:
“Foram tomadas decisões, inclusive da parte da UE, restringindo significativamente a capacidade, em particular, de Rosselkhozbank (Banco Agrícola Russo) de financiar produtores nacionais. Assim, em nosso próprio mercado de produtos agrícolas foi criada uma concorrência injusta em benefício de fabricantes europeus. A segunda consideração está diretamente ligada à segurança nacional da Rússia. Se países estão se unindo contra nós e introduzindo sanções sectoriais contra a Rússia, então é, provavelmente, difícil chamá-los de bons parceiros”.
Os prejuízos diretos de agricultores europeus são apenas uma parte do problema. Segundo a edição britânica Farmers Weekly, dezenas de milhares de agricultores que não estão diretamente ligados às exportações para a Rússia também sofrerão prejuízos. Os “frutos proibidos” terão que ser vendidos nos mercados da UE. Os preços podem desabar, a produção pode deixar de ser rentável e os prejuízos consequentes dos produtores poderão aumentar várias vezes. As sanções contra a Rússia ameaçam “o aumento dos preços do trigo”, e, consequentemente, até mesmo uma possível escassez de pão, acrescenta o The Daily Telegraph.
Não se pode dizer que a Rússia vai sair da “guerra de sanções” sem qualquer dano. Haverá um período de escassez de produtos: quando uns fornecedores já se foram, e outros ainda não preencheram o nicho. Mas esse será um período muito breve, diz um dos principais peritos financeiros da Rússia Serguei Khestanov:
“No mundo não há escassez de alimentos nenhuma. Há, talvez, uma escassez de mercados de venda. Muitos países irão, com grande prazer, fornecer produtos alimentares à Rússia. A carne e derivados virão principalmente da América Latina. A Sérvia e a Turquia vendem frutas e legumes. Além disso, a Rússia produz grão grosso em excesso que pode ser trocado lucrativamente por algo que a Rússia precise”.
Mas por enquanto, a UE está procurando desesperadamente maneiras de “atenuar a resposta da Rússia”, algumas das quais são anedóticas, outras absolutamente sem escrúpulos.
O embaixador da Polônia nos Estados Unidos, Ryszard Schnepf, exigiu a abertura do mercado norte-americano para as maçãs polonesas. Mas persuasões no espírito de “vocês nos incitaram a introduzir sanções, agora comam as nossas maçãs” não tiveram efeito sobre Washington.
E os finlandeses decidiram jogar em seu mercado produtos lácteos e carne destinados à Rússia. Os produtos serão vendidos com rótulos em russo. As leis finlandesas proíbem isso. Mas o parlamento decidiu contorná-las, caso contrário seria necessário jogar em valas e enterrar produtos lácteos e embutidos no valor de cerca de 500 milhões de dólares.
Ao mesmo tempo, Bruxelas está tentando por todos os meios “dissuadir” a América Latina e a Ásia de se introduzirem no mercado russo. Os embaixadores da UE no Brasil, Chile, Argentina, Uruguai foram encarregados de, como disse o The Financial Times, “dissuadi-los de participarem na substituição das exportações agrícolas da UE”. Tais esforços, reconhece o jornal, são feios, e são em vão. O Brasil já permitiu a cerca de 90 novas empresas produtoras de carne começarem imediatamente a exportação de frango, carne bovina e suína para a Rússia. O Chile e a Argentina enviaram seus representantes a Moscou para negociações. A China, o Irã, o Azerbaijão, a África do Sul e Israel estão fazendo o mesmo.
 Kiev organizou também sua própria “carteira de sanções” contra a Rússia. As autoridades ucranianas conseguiram enquadrar quase tudo nela, desde a proibição de investimentos e suprimentos de bens até proibições de turnês de vedetas pop russas, da venda de livros e filmes. Esforçando-se por agradar a Washington, as autoridades de Kiev tomaram uma iniciativa depois da qual na Europa surgiram muitas pessoas descontentes. O primeiro-ministro Arseni Yatsenyuk ameaçou “proibir o trânsito” de quaisquer recursos naturais russos através da Ucrânia. Claramente, ele estava aludindo ao trânsito de gás.
Yatsenyuk, segundo informam jornais europeus, foi imediatamente aconselhado, em privado, a “não chegar perto do gasoduto”. Os gigantes alemães de energia RWE, E.On e Wintershall, bem como a eslovena SPP, disseram que não querem sequer comentar tal absurdo.
O problema, no entanto, não é na guerra de sanções que está decorrendo, diz Dmitri Danilov do Instituto da Europa de Moscou. Trata-se de algo muito mais significativo: da reorientação geopolítica tanto da Rússia como da UE. A Europa pode perder a Rússia como um parceiro estratégico confiável:
“A Rússia está voltando a um estado onde ela tinha que “construir uma fortaleza” e defender-se. E não só com aviões e armas nucleares. Mas defender-se economicamente, procurar novos parceiros, fortalecer-se financeiramente. Esse conflito vai ser um golpe duro para a Europa não só em termos das relações russo-europeias, mas também em termos da posição da Europa no mundo”.
Os mais afetados pela proibição russa serão os países da UE. Mas outros países também sofrerão prejuízos. A Noruega, que não é membro da UE, fornecia à Rússia alimentos no valor de 1,2 bilhões de dólares, os Estados Unidos em 844 milhões, o Canadá em 374 milhões de dólares, a Austrália em 182 milhões.
A propósito, o governo australiano, em resposta, ameaçou não vender mais urânio à Rússia, o que causou espanto em Moscou. A Rússia tem urânio próprio que lhe chega para 250 anos...
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