segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

GBISSAU


         "OUTRA FACE DA MOEDA". TPanaque
 “é errado rotular Amílcar Cabral de santo”.
"Mário Cissoko considera que Amílcar Cabral era uma pessoa egocêntrica e que “fez tudo para chegar onde chegou”, às vezes por métodos “pouco claros”.
“Há um culto de personalidade exagerado de Amílcar Cabral, mas ele não era um homem perfeito. Eis o meu ponto de vista, o que me tem trazido muita contradição, diferendo, com muita gente neste país”, afirma Cissoko.
“Não sou inimigo de Amílcar Cabral, sou um historiador. Ele não é nenhum santo como se queira pintar dele”, diz, citando casos que na sua opinião atestam o que afirma.
Cabral geriu mal as contradições com os seus colegas da luta. Com os combatentes guineenses isso era visível. Era o único a pensar e ditar as regras. Com os cabo-verdianos também. Várias vezes ouvi discussões entre Cabral e Abílio Duarte sobre quem de facto dirigia a luta”, nota.
“Certa vez discutia com Abílio Duarte e este dizia-lhe: você não é o chefe supremo disto. Estão aqui duas competências nacionais diferentes (Guiné e Cabo Verde). Abílio Duarte que era de facto o chefe da competência cabo-verdiana na luta não aceitava que Cabral fosse o chefe dele. Mesmo sendo o que era não tinha um gabinete específico no secretariado do partido em Conacri. Andava pelo sítio”, afirma Mário Cissoko.
Hoje com 65 anos e na altura responsável pela compilação das memórias da luta armada pela independência da Guiné-Bissau, Mário Cissoko diz que conviveu quase diariamente com Amílcar Cabral em Conacri, durante dois anos.
“Conheci Amílcar Cabral em 1965. Fui encarregado de arquivo morto do secretariado do PAIGC em Conacri entre 1966 e 1968, também nesse período era o encarregado da biblioteca do partido, que se situava mesmo ao lado do gabinete de Amílcar Cabral, ainda ajudava na tradução das publicações de propaganda do partido para o francês”, observa Cissoko.
O historiador, que diz que vai fazer relatos completos “com provas documentais” de muita coisa no seu livro, que se chamará “Dossiê secreto da luta de libertação nacional”, afirma que Amílcar Cabral não se iria aguentar durante muito tempo no poder se chegasse vivo à independência.
“Se fosse vivo aquando da independência e viesse para Bissau teria que justificar a morte de vários destacados combatentes guineenses. Mesmo que isso não fosse falado, seria os rumores de Bissau. Isso iria irrigar o povo”, diz o historiador.
“Também ele não iria manter-se no poder durante muito tempo como líder, porque, com a sua filosofia de vida, não iria aguentar perante as novas tentações do poder num país independente”, acrescenta.
Sem certezas, o historiador admite que já no final da vida de Amílcar Cabral este percebeu que a sua maneira de ser não era apreciado pelos combatentes. Daí, afirma, a célebre frase do antigo dirigente: “duas cabeças pensam melhor que uma e três pensam ainda muito melhor do que duas”.
“Fico a pensar que quando ele diz isso compreendeu que as pessoas já não suportavam o facto de ser ele o único que fala e pensa”, sublinha o historiador, avançando as causas possíveis para o assassínio do líder.
“Amílcar Cabral era uma pessoa inteligente. Fez o seu percurso para chegar onde chegou, era egocêntrico e por vezes injusto nas suas decisões, isso poderá ser o motivo da sua morte”, diz Cissoko, quando solicitado para definir a personalidade de Amílcar Cabral.
Entretanto, em declarações à Rádio de Cabo Verde, Corsino Tolentino, investigador cabo-verdiano e antigo combatente, afirma que o historiador guineense parte de um principio errado, que se está a santificar Cabral. “Cabral era um humanista universal, defensor dos direitos humanos”.
Ainda segundo Corsino Tolentino, hoje a obra de Cabral continua válida e justifica o argumento com o slogan do fundador do PAIGC, “pensar pelas nossas próprias cabeças”LUSA

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