quinta-feira, 3 de abril de 2014

MUNDO

Cooperação entre Rússia e OTAN é necessária não somente à Rússia


No encontro dos chefes dos serviços diplomáticos de 28 países-membros da Aliança do Atlântico Norte foi anunciado que a OTAN quer continuar a colaborar com a Rússia no Afeganistão mas irá congelar por três meses todas as demais formas de “cooperação militar e civil pratica” com Moscou.

O representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia Alexander Lukashevich declarou que esta decisão não vai beneficiar ninguém e que a situação que se formou em resultado disso provoca o efeito de déjà vu.
Realmente, não é pela primeira vez que a Aliança recorre a esta retórica ameaçadora. O mundo já ouviu algo semelhante depois do conflito com a Geórgia por causa do ataque desta última contra a Ossétia do Sul em 2008. Naquela ocasião a OTAN suspendeu por três meses a colaboração com Moscou mas a seguir restabeleceu-a na íntegra. Aliás, desta vez existem certas peculiaridades, ou seja, a atividade excessiva e simultânea da Aliança e do seu líder real, os EUA, na Europa Oriental, no espaço da CEI e, especialmente, na Ásia Central. Tem-se a impressão de que Washington interpreta os êxitos geopolíticos da Rússia como um insulto pessoal e como um desafio à sua hegemonia mundial.
Os Jogos Olímpicos de Sochi, o impedimento da operação militar na Síria, um certo progresso no tocante ao programa nuclear iraniano e a criação da Aliança Econômica da Eurásia viraram um osso atravessado na garganta dos estrategistas ocidentais e eles anseiam por uma revanche que sirva de lição para todos. A “espoleta” que deu início à fase ativa da confrontação com Moscou foi a recuperação pela Rússia da Crimeia, o seu território histórico. Uma das causas verdadeiras, mas cuidadosamente camufladas, são problemas financeiros da Aliança. Eis a opinião a este respeito do presidente do fundo Novaya Evraziya (Nova Eurásia) Andrei Kortunov:
“A maioria dos membros da Aliança não cumpre o compromisso, assumido anteriormente, de destinar no mínimo 2% do seu PIB para a defesa. Além disso, a Aliança está um tanto desmoralizada, visto que os últimos anos tornaram evidente a sua ineficiência no Afeganistão e numa certa medida também na Líbia. Neste último caso a operação não foi tão bem sucedida como os estratégicos ocidentais esperavam. É preciso ter também em conta que nos países da Europa Central existe a tendência de pânico e as forças da direita aproveitam-se disso. Há quem afirme lá que a Rússia vai invadir logo amanhã os países bálticos e que por isso é preciso consolidar com urgência a segurança.”
Eis os planos concretos da OTAN que já estão em fase de realização. Pretende-se incorporar a Armênia, o Azerbaijão e a Moldávia nos projetos da aliança de aquisição de armas e de elevação do seu potencial militar. Os dirigentes da Aliança querem que os exércitos destes três países se tornem compatíveis com os padrões da OTAN a fim de conseguir o trabalho conjunto eficiente. Erevan, que leva a cabo a política de amizade com Moscou, já declarou que não pretende ampliar os formatos de cooperação com o bloco ocidental.
Na cúpula da OTAN em Bruxelas foi também resolvido elevar o nível de capacidade de defesa dos próprios países da Aliança no contexto da crise ucraniana, assim como o poderio militar da Ucrânia. O Pentágono analisa a possibilidade de envio de mais um navio de guerra para o mar Negro e já solicitou à Romênia a permissão de aumentar o número dos seus militares e dos aviões numa das bases situadas neste país. O número de caças, estacionadas nos países bálticos, foi duplicado.
A intensificação da tensão e as previsões apocalípticas a respeito da Rússia, não passam do biombo destinado a manter o controle da Aliança sobre regiões inteiras e, inclusive, ampliar a zona deste controle. No entanto a parceria entre a OTAN e Moscou é garantia da segurança global em vista da ameaça global do terrorismo, crescimento do extremismo e do radicalismo religioso no Norte da África e no Próximo Oriente e, finalmente, em vista do problema do Afeganistão. Eis a opinião do doutor em ciências políticas Vladimir Shtol:
“O programa de colaboração entre a Rússia e a OTAN sempre foi um dos fatores mais importantes no plano de consolidação da segurança europeia e internacional. E hoje não existe realmente uma variante melhor no plano do modelo ou da concepção. Por outro lado é preciso compreender que a Rússia de hoje não é o país dos princípios da década de 90 – é um outro jogador, com outras ambições e tendências. A julgar por tudo, a direção da OTAN não consegue mudar de opinião e compreender que a situação geopolítica geral no mundo está mudando e que estas mudanças não seguem a via de ampliação das possibilidades precisamente dos americanos e da Aliança, mas, sim, a via de surgimento de novos centros de força e que este último papel é desempenhado pela Rússia ao par da China.”
Está claro que cedo ou tarde as paixões irão amainar. O que importa é cuidar de que antes que isso aconteça não sejam dados passos imprudentes, capazes de exercer influência negativa sobre o equilíbrio frágil que se consegue manter no mundo.
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/2014_04_03/Cooperacao-entre-Russia-e-OTAN-necessaria-nao-somente-Russia-1526/

V.R.

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